quinta-feira, 26 de maio de 2011

Cinema Latinoamericano: Peru



Falar de um cinema peruano anterior a meados dos 1990’ é uma tarefa bastante ingrata, uma vez que a produção deste período, além de extremamente escassa, era levada a cabo por uns poucos realizadores que trabalhavam conforme sua visão particular, sem nenhum aparente intuíto de trabalhar conjuntamente para produzir um material homogêneo. Destes primeiros criadores se destaca Armando Robles Godoy, que durante sua carreira dirigiu seis longa-metragens, quatro deles entre as décadas de 1960’ e 1970’, e algumas dezenas de curtas. Sendo que seu filme Espejismo de 1972 chegou a ser indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor filme estrangeiro. Além disso, em 1966 ele começou a primeira oficina de cinema do Peru que funcionou por mais de trinta anos.

Talvez eu esteja sendo injusto (caso isso seja verdade, por favor, me avisem para que eu faça as devidas correções e me desculpem), mas não acho que valha muito a pena adicionar outras informações sobre o cinema realizado no Peru antes de meados 1990’. Eu poderia dizer qual foi o primeiro filme ficcional peruano já realizado (Negocio al Agua - 1913), ou contar sobre filmes estrangeiros filmados no país (Fitzcarraldo, Anaconda), ou mesmo sobre peruanos que realizam seu trabalho em outros países (Luis Llosa). Mas essas informações não me parecem relevantes para o intuito desta postagem. Assim, apenas informarei dois lugares onde você encontrará conteúdo interessante sobre a história do cinema no Peru aqui ou aqui (apenas em espanhol).

O Peru é o país com a mais importante cultura pré-colombiana de todo o continente americano. Sabe disso e tem buscado, especialmente neste começo de século, resgatar e valorizar este patrimônio, o que tem se mostrado muito importante para o turismo na região. Tanto é assim, que o Quechua e o Aimará, dois dos principais idiomas ameríndios falados no país, têm status de língua oficial, junto ao espanhol. Sendo que o Quechua é ensinado em escolas e muitas vezes serve de alternativa ao inglês quanto ao estudo de uma segunda língua, mesmo a nível universitário.

Em vista disto, apesar da ainda escassa produção, a forte base cultural peruana vem promovendo filmes que, apesar de não fugirem da cinematografia internacionalmente em voga, em questão de temática vem conseguindo distinguir-se com filmes voltados não apenas a realidade social e mesmo cultural do país, como, também, a sua própria produção ficcional.

Sim, a produção cinematográfica sulamericana tem, no geral, uma temática bastante regionalista, sem falar na extensa produção de filmes politicamente engajados. Contudo, a gigantesca herança cultural peruana lhes dá uma visão mais peculiar do ambiente em que estão inseridos do que a de seus pares que possuem apenas uma lembrança fragmentada de sua própria origem.

Um Cinema Subsidiado

O primeiro grande avanço na produção cinematográfica peruana aconteceu em 1972 com o advento da Ley de Fomento a la Industria Cinematografica, que com medidas como a exibição obrigatória, conseguiu dar um primeiro impulso a sua produção, especialmente no desenvolvimento de projetos de curta-metragem. Durante os 20 anos de vigência da lei. Foram mais de 1200 curta-metragens produzidos.

Dois anos após o fim da vigência desta lei, uma nova lei sancionada por Alberto Fujimori, a Ley de la Cinematografía Peruana, veio dar facilidades e mesmo ajudar a financiar iniciativas cinematográficas no país. O que proporcionou um aumento contínuo na sua produção cinematográfica. Amparados por essa lei foram produzidos diversos longa-metragens que receberam acolhida no exterior como El Bien Esquívo, Dias de Santiago, Paloma de Papel, Madeinusa, Mariposa Negra, O Leite Derramado, entre outras.

Já ao fim de 2010 uma nova lei chamada Procine, que recebeu apoio de artistas e profissionais do ramo, veio ampliar os recursos financeiros da CONACINE, órgão criado com a Ley de la Cinematografía Peruana que promove o cinema no país e administra o financiamento das produções subsidiadas pelo governo. A intenção é aumentar o número de produções nacionais que atualmente gira em torno de 10 longa-metragens anuais.

Temática Regional

A aculturação é uma das temáticas que mais tem ganhado força no país, especialmente com o trabalho da sobrinha do famoso escritor laureado ao nobel Mario Vargas Llosa, Claudia Llosa, que com seu segundo filme, O Leite da Amargura (A Teta Assustada), conquistou o Urso de Ouro de 2009 e ainda uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, feito inédito no país. Além dos filmes de Claudia Llosa (seu outro filme chama-se Madeinusa) também é possível destacar:

Pantaleão e as Visitadoras (provavelmente o filme com maior arrecadação da história cinematográfica peruana), filme onde um capitão do exército recebe a inusitada missão de organizar um serviço de prostituição para atender os soldados destacados a proteger a zona de fronteira.

Contracorrente, filme, que me lembra a Dona Flor e Seus Dois Maridos, onde um estrangeiro homossexual tem um caso com um dos pescadores da pequena vila do litoral peruano onde vivem.

Contudo, Claudia Llosa da um passo além ao introduzir elementos próprios da cultura peruana. Seus dois filmes não apenas são protagonizados por uma personagem indígena (Magaly Solier nos dois papéis) como também são parcialmente falados em Quechua, sendo esta língua usada até mesmo na trilha sonora deste último.

O Poder das Adaptações

Outra característica bastante comum no cinema peruano é a adaptação literária. Talvez por se valer de alguns nomes internacionalmente conhecidos como Mario Vargas Llosa e Jaimy Bayly (que é uma espécie de Jô Soares, mas conhecido em toda a América Latina e Estados Unidos). Muitas das obras desses e de outros escritores acabaram se tornando filmes, entre elas: Pantaleão e as Visitadoras, A Cidade e os Cachorros, Não Conte a Ninguém.

O mais conhecido diretor peruano partidário desta pratica é Francisco Lombardi, que não por acaso é o mais prolífico cineasta da história do Peru com quinze longa-metragens e mais de trinta anos de atividade. Sendo Pantaleão e as Visitadoras seu filme mais bem sucedido.

Animações com Computação Gráfica

No ano de 2005, Eduardo Schuldt coloca o Peru na vanguarda das animações gráficas (CGI) com a estréia de Piratas en el Callao, primeira animação do tipo realizada na América Latina. A este primeiro filme, se seguiram Dragones: Destino de Fuego e O Golfinho - A História de um Sonhador. Este último foi o primeiro a ter uma maior repercussão internacional, com o apoio da Fox Films. Obviamente, estes três filmes não podem ser comparados a produções estadounidenses do gênero dada a gritante diferença orçamentaria entre eles (seu último filme teve um orçamento estimado de três milhões de dólares), mas não deixam de ser uma importante conquista para o cinema do país, que tem visto o número de profissionais da animação aumentar substancialmente.

Uma Última Consideração

Apesar de uma história política conturbada, como a de quase todos os países da América Latina, praticamente não existem filmes que abordem o tema no país. Ainda que não possa afirmar isso indubitavelmente, acredito que o motivo da ausência deste tipo de filme se deva ao fato da grande maioria dos longa-metragens nacionais serem subsidiados pelo governo. Bem, ao menos o governo peruano não usa a força de sua cinematografia como instrumento político.


Mais sobre cinema latinoamericano pode ser visto aqui.

4 comentários:

Lei disse...

Eu assisti Pantaleao e as visitadoras durante uma aula da pos-graduacao de gestao de projetos. Para quem conhece o tema e diversao garantida!

Anarchist Cook disse...

Boa abordagem! Se possível, gostaria de saber mais sobre o mercado e a produção de cinema de animação no Peru e se existe produção de séries televisivas do gênero.
Obrigado!

Anarchist Cook disse...

Boa abordagem! Se possível gostaria de saber mais sobre o cinema de animação no Peru, sobretudo se há em produção séries televisivas do gênero. Obrigado!

David Cotos disse...

Excelente el artículo que has compartido con nosotros. Saludos desde Perú.